terça-feira, 3 de setembro de 2013

O Sono na Preparação para Concursos Públicos

 

Por: Prof. Rogério Neiva (juiz do Trabalho)

Seguramente você já ouviu falar dos benefícios e da importância do sono, para a saúde, para a vida em geral e mesmo para a preparação para concursos públicos. No entanto, muitas vezes encaramos tais colocações como conselhos com os quais concordamos, mas não levamos a sério e não damos a devida importância, por meio da adoção de atitudes efetivas e concretas. O objeto do presente texto consiste na abordagem deste relevante tema para o candidato que busca o êxito nos concursos públicos.
Porém, como fiz em outro texto, tratando da importância da atividade física na preparação para concursos públicos, não pretendo aqui reproduzir colocações intuitivas, genéricas e superficiais, com abordagens do tipo auto ajuda enlatada para concursos, afirmando queo sono é importante e que você deve em dormir bem, pois disso você já sabe, sendo que valorizo e respeito o seu precioso tempo.

A intenção é apresentar argumentos consistentes e fundamentados, inclusive de modo a proporcionar a compreensão de sentido, para que, a partir daí, se sinta efetivamente provocado e passe a valorizar esta relevante preocupação, adotando atitudes efetivas e concretas.

Digo isto pois, por ter vivenciado uma intensa trajetória de candidato, bem como conviver com muitos candidatos a concursos públicos, sei que geralmente não enxergamos os custos e ônus envolvidos em atitudes que, aparentemente, possam colaborar com a busca da aprovação. Muitas vezes agimos de forma desesperada e até irracional para estarmos na lista de aprovados.

Inclusive, é exatamente isto que leva muitos candidatos à busca de soluções mágicas e milagrosas, as quais vendem a idéia de que nosso cérebro é uma máquina que pode ter seu “Hard Disk” ampliado e até “turbinado”.

Neste sentido, a tese do presente texto é de que a preocupação com o sono, no processo de preparação para concursos públicos, não se trata de uma questão de conselho médico, voltado ao cuidado com a saúde e desvinculado da preocupação com a aprovação. Trata-se de uma condição fundamental para o alcance de êxito nas provas.

Vamos aos fundamentos.

Existem diversas construções, estudos e pesquisas, de credibilidade acadêmica e científica, para justificar a presente tese.

Uma primeira idéia consiste no fato de que dormir significa paralisar momentaneamente a recepção de estímulos. Ou seja, significa paralisar a atividade cognitiva de captura de informações. Não é preciso o domínio de conceitos neurocientíficos para concluir que isto tende a valorizar o que foi capturado no estado de vigília.

Vale também registrar que a preocupação com o estudo da relação entre memória e sono existe há décadas. Porém, recentemente, algumas pesquisas passaram a demonstrar que tanto nosono paradoxal, o qual conta com uma intensa atividade cerebral e também é chamado de sono REM, bem como no sono lento (não REM), ocorre uma atividade de consolidação de memórias. Apenas a título de ilustração, um estudo chefiado pelo Prof Pierre Maquet, com o uso do “Pet Scan” (tomografia por emissão de pósitrons), mostrou que as mesmas áreas cerebrais ativadas em momentos anteriores ao sono eram ativadas durante o sono.

Outro estudo relevante, chefiado por um pesquisador chamado Jan Bom, mostrou que no sono paradoxal as memórias motoras são mais ativadas, ao passo que no sono lento as memórias declarativas, as quais envolvem a retenção de dados conceituais e informativos, contam com atividade mais intensa. Vale dizer que as memórias declarativas encontram-se mais próximas da realidade do que o candidato a concursos públicos deve se apropriar intelectualmente. Porém, o mais importante deste estudo foi mostrar que no sono lento também há a atividade de consolidação de memória.

No livro que publiquei recentemente pela Ed Método, tratando do tema da preparação para concursos (Como se Preparar para Concursos Públicos com Alto Rendimento), menciono argumento da neurocientista brasileira Suzana Herculao Houzel, a qual sustenta que durante o sono entra em ação a atividade de seleção e descarte de informações. Ou seja, o nosso “equipamento biológico” funciona descartando o que é irrelevante e retendo o que é tido por relevante. Por isto que episódios traumáticos muitas vezes contam com dificuldades para serem cognitivamente descartados.

Aliás, aproveito para lembrar que a referida autora, na sua obra “O Cérebro Nosso de Cada Dia” (Ed Vieira&Lent), menciona estudo no qual cobaias foram estimuladas a não dormir, inclusive com a fixação dos olhos abertos. Obviamente que vieram a falecer. Contudo, o comprometimento da sobrevivência começou com a desregulação da temperatura do corpo, depois caminhando para processo de falência dos órgãos.

Cuidado para que não tenha o mesmo fim!

Portanto, dormir não é uma questão de seguir conselho médico. É uma condição fundamental à aprovação!

Durante a minha trajetória de candidato, houve uma ocasião na qual sonhei com o instituto da intervenção de terceiros, inerente ao Direito Processual Civil. Daí percebi o quanto havia consolidado aquela informação, o que inclusive, no plano consciente, me proporcionou mais segurança sobre o tema, até então tido por precariamente apropriado.

Porém, não ache que isto significa que estudar durante o sono, por exemplo ouvindo informações em áudio, tem o mesmo efeito. Existem estudos que mostram que não! A dinâmica ideal é estudar em vigília e dormir para consolidar memórias. E no caso das declarativas, valorizando o sono lento.

Portanto, ao se preparar para concursos públicos, dormir não é apenas uma questão de saúde e bem estar. Trata-se de condição necessária à apropriação intelectual das informações passíveis de solicitação no momento da prova.

Espero que esteja convencido e possa dormir tranqüilo, com a convicção de que não está jogando seu tempo fora.

Bom estudo e bom sono para consolidação de memórias declarativas!

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