William Douglas*
Posso dizer com alguma confiança que se a pessoa já entra pela via da corrupção, seja ela a do dinheiro ou a do vazamento de informações, tal pessoa é corrupta e ponto, podendo prejudicar o poder público com desvios, extorsões e fazer tudo o mais que nós, brasileiros, estamos fartos. Não dá para contemporizar com isso.
É preciso que a instituição que realiza o concurso reveja todo o seu sistema de segurança para evitar que a tragédia se repita, que se identifique a quadrilha (porque nenhuma fraude é realizada por uma pessoa sozinha) e, mais que tudo, que não se corra o risco de dar posse a eventuais pilantras.
Quem está estudando fatalmente sofrerá com isso tudo, mas se a fraude não fica especificada como sendo um vazamento sem controle ou bem delimitado, como comentado anteriormente, a anulação é a maneira mais correta de exterminar o problema. Explico com um exemplo: se 30 pessoas receberam o gabarito, a anulação será péssima para o candidato honesto que passou dignamente entre o número de vagas, mas será nefasta para os 30 que teriam “entrado” se não fosse o vazamento. Assim, quando um aprovado pensar que a anulação é um absurdo, gostaria de convidá-lo a pensar em todos os concursos que prestou e não foi aprovado. Se essas reprovações fossem fruto de um favorecimento de algum candidato aprovado “por fraude”, como se sentiria?
É necessário defender todos os que estudam, em especial aqueles que foram ou seriam eliminados por conta da fraude. Obviamente é dura essa mudança de paradigma e os prejuízos aos que entraram honestamente são visíveis, mas – se há vazamento sem definição de impacto – é preferível que todos os que estudam tenham uma nova chance. Quem estuda terá nova oportunidade e o serviço público estará protegido.
Uma nova prova dá a oportunidade daqueles que estão prestando o concurso não serem roubados, fraudados, iludidos e, até mesmo, possibilita um pouco mais de tempo para estudar. Para além disso, a anulação é uma medida exemplar que noticia aos aproveitadores que não haverá tolerância diante desse tipo de crime. E também dá à instituição organizadora a oportunidade de mostrar mais eficiência, outro princípio da República.
A lisura dos concursos é inegociável e beneficia todos os que fazem por merecer. Por isso, convoco a todos para que, mesmo em momentos de fraude, continuem na jornada e ajudem a limpar a casa. Só você, que estuda, pode ajudar a fazer essa faxina. Que a justa ira pela bandalheira faça de você um servidor ainda mais comprometido com um serviço público sério, digno e eficiente.
William Douglas é juiz federal, professor, palestrante e autor de diversas obras. Passou em nove concursos, sendo cinco em 1º lugar: www.williamdouglas.com.br.
Fonte: http://jcconcursos.uol.com.br/Concursos/Noticiario/artigo-william-douglas-fraudes-em-concursos-48763
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